Enlitia

Espaço Associado

Tiago Santos
CEO da Enlitia
Dados: o combustível estratégico para a transição energética

 

A transição energética é uma necessidade urgente e incontestável, porém enfrenta desafios complexos. Desde a década de 1970, o setor de energia tem liderado a adoção de tecnologias digitais para aperfeiçoar a gestão e operação das redes. Hoje, com a crescente importância dos dados, é crucial repensar como essas informações podem ser estrategicamente utilizadas para acelerar a transição energética. Embora tenham sido feitos investimentos significativos em tecnologias digitais para melhorar a eficiência, fiabilidade e sustentabilidade dos sistemas de energia, incluindo Big Data e Inteligência Artificial (IA), ainda não conseguimos ver totalmente o potencial desses investimentos.

 

A Agência Internacional para as Energias Renováveis (IRENA) sublinha que, embora os investimentos em energias renováveis estejam a aumentar, existe um fosso significativo entre os esforços atuais e as medidas necessárias para uma transição energética sustentável. O World Energy Transitions Outlook 2023 da IRENA sublinha a necessidade urgente de aumentar os investimentos em energias renováveis e infraestruturas para cumprir o objetivo climático de 1,5 °C. Muitas empresas têm dado prioridade a infraestruturas físicas como redes inteligentes e carregadores para veículos elétricos, negligenciando software e sistemas de gestão de dados essenciais para transformar dados brutos em insights acionáveis. Para uma digitalização eficaz, é fundamental equilibrar investimentos em hardware e software, implementando uma estratégia clara para gestão e análise de dados.

 

Além disso, a extração de valor dos dados é um imperativo reconhecido pelos executivos do setor, porém a operacionalização desse conhecimento ainda avança lentamente, resultando em oportunidades perdidas de novos fluxos de receita. As equipas de inovação interna lideram esse processo na busca por um modelo de negócio digital orientado por dados, reconhecendo que digitalização pode significar diferentes coisas: hardware, software ou o conhecimento gerado pela combinação de ambos. Para acelerar esse processo, programas de aceleração, parcerias estratégicas e colaborações com instituições académicas são cruciais. Essas abordagens revelam que algumas empresas já perceberam que a digitalização vai além da infraestrutura física, explorando diversas possibilidades com a crescente disponibilidade de dados para desenvolver novos e mais eficientes modelos de negócio.

 

No futuro, a digitalização do setor energético promete ser ainda mais transformadora, com a adopção em larga escala das tecnologias emergentes, como o caso da Inteligência Artificial que irá permitir antecipar necessidades energéticas e potenciais falhas de equipamentos, e otimizar a performance dos ativos de produção de energia em tempo real. A integração destas tecnologias numa primeira fase vai criar desafios, que podem ser tão simples quanto a capacidade do utilizador entender a nova camada de informação gerada. Ao mesmo tempo, estes terão ao seu dispor múltiplos algoritmos com a garantia de resolução para todos os problemas diários, e a dificuldade estará em perceber quais os melhores e como os utilizar. O melhor ecossistema de algoritmos, será aquele capaz de integrar e fazer com que os algoritmos cooperem entre si da forma mais relevante para cada situação, fornecendo a melhor informação para cada utilizador. Por outro lado, a Cloud Computing e o Edge Computing permitirão análises de dados mais rápidas e eficientes, processando informações diretamente no local de origem; e, modelos de negócios como Energy as a Service (EaaS), baseados no fornecimento contínuo de energia e otimização do consumo por meio de dados, também estão a ganhar destaque.  

 

A digitalização na energia deve ser encarada como uma estratégia integrada, onde hardware e software trabalham em harmonia para transformar dados brutos em insights valiosos e operacionais. Incentivar empresas e líderes do setor a adotar essa mentalidade de inovação e investir estrategicamente em digitalização é essencial para acelerar a transição energética. Integrando dados de forma eficaz, podemos criar sistemas energéticos que não apenas atendam às necessidades atuais, mas estejam preparados para os desafios e oportunidades futuras, pavimentando o caminho para um futuro sustentável e eficiente para todos.

 

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